José Maria Tomazela
O Estado de S. Paulo
O Estado de S. Paulo
HUMAITÁ (AM) – O debate do general Eduardo Villas Bôas, comandante
militar da Amazônia, com o cacique Aurélio Tenharim surpreendeu a comitiva de
militares e autoridades que viajou até a reserva indígena Tenharim Marmelos,
segunda-feira (7), em Humaitá, sul do Amazonas.
O grupo,
integrado também pelo general Ubiratan Poty, da 17ª Brigada de Porto Velho,
viajou para negociar com os índios a pacificação – e pedir o fim do pedágio na
Transamazônica, uma das causas do conflito, além do desaparecimento de três
homens na rodovia, ainda não esclarecido. O embate mostrou, de um lado, a
capacidade de negociador do general e, do outro, a riqueza de argumentos do
índio na defesa de uma atividade, até agora, ilegal.
GENERAL VILLAS BÔAS – Conheço a história do povo tenharim. O povo de vocês
vive numa área em que sofreram com a construção de rodovias, muito rica em
minério, tem garimpo de ouro, diamante e cassiterita, e não há duvida do
sofrimento que esse processo trouxe para o povo tenharim. Mas a questão é a
seguinte: a cobrança do pedágio não vai resgatar isso, nem trazer de volta as
crianças que morreram.
Acho que o
pedágio, se continuar como está, vai sim continuar colocando em risco as
crianças e o seu povo. Não digo que não merecem a compensação, mas isso terá de
ser feito de acordo com a lei e o pedágio não está de acordo com a lei. É uma
rodovia federal e é garantia das pessoas que trafegam nela.
Acho que
para a gente pacificar aqui é importante parar com a cobrança. Sabemos que o
pedágio é importante para vocês, talvez a única renda que vocês têm aqui.
Talvez pudéssemos desenvolver atividades produtivas para vocês terem outra
fonte de renda. Vamos discutir para que a gente possa levar essas idéias para
Brasília. Acho importante que vocês tenham essa motivação: vamos parar com o
pedágio e levantar outros projetos para dar sustentação às comunidades. Só
assim a gente vai pacificar. Sei que é uma questão sensível, mas peço que
pensem nisso.
CACIQUE TENHARIM – A gente não fala de pedágio, fala de cobrança de
compensação. Ela nunca vai pagar a dívida. Nós éramos 30 mil tenharins, hoje
somos 800. Os jeahoy foram quase extintos. Claro que o povo tenharim tem
deixado aberto para negociar com os governantes. Esperamos quatro anos para
sentar na mesa de negociação, mas nenhum órgão se manifestou. Ninguém levou a
sério essa cobrança de compensação da parte do governo.
A
Transamazônica tem história de massacre, de estupro de nossas índias, escravos,
violação de direitos. Quem vai pagar isso? Essa compensação não está só na fala,
está no Ministério Público Federal que tem esse relatório detalhadamente. As
autoridades aqui presentes precisam ver o relatório levantado por antropólogos
e biólogos.
O governo
não teve diálogo com a gente e agora vem com a Polícia Federal, então abrimos o
diálogo, mas o pedágio continua. O povo tenharim e o povo jiahoy já decretaram
que o pedágio vai continuar independente de algumas pessoas estarem
descontentes. O senhor veio aqui, general, é nós abrimos o diálogo, mas
enquanto isso vai ter cobrança.
Já temos
até a data, dia 10 começa a reconstrução da casinha e dia 1º de fevereiro vai
continuar o pedágio. Quero dizer para as crianças que é seu meio de trazer
economia. Acho que a população dos municípios e as autoridades não conseguiram
analisar na parte da economia. Se o pedágio está irregular, a lei também não
proíbe a cobrança. Faço comparação: uma vez eu cheguei numa festa de rodeio e
tinha um monte de lanterninha, encosta aqui, aí falei, quanto paga: dez reais.
Tem legalidade? Não tem. Uma vez cortou a estrada e passamos por uma fazenda, e
sabe quanto o fazendeiro cobrou? 50 reais. É legal?
A cobrança
de compensação ajudou crescer Santo Antonio de Matupi, pois comprávamos roupas.
O índio pega o ônibus, paga a passagem, são 25 reais. Tem a Luz para Todos, a
gente achava que ia pagar só uma taxa, mas é conforme o uso. Tem família que
paga 150. A saúde, o governo oferece atenção básica, mas exame de média e alta
complexidade o governo não oferece e o índio paga. A cobrança de compensação
vai lá e cobre.
Será que o
governo brasileiro, a presidenta Dilma, daria essas condições? Não dá. Quero
dizer para todas as autoridades que fizemos proposta, mas o governo não
respondeu. Nós acreditamos em todas as autoridades aqui presentes, mas cadê o
executivo aqui? Está o general, está o procurador, mas cadê representante do
governo aqui? Não tem.
Nós
agradecemos pela sensibilidade que vocês tiveram de chegar até aqui, mas
convida o governo para vir resolver as questões práticas aqui. Leva essa
mensagem pra Dilma, estamos prontos para dialogar. Mandamos os documentos, mas
cadê a resposta?
Realmente,
o usuário da Transamazônica é inocente, a gente está ciente disso, mas
infelizmente, temos que chamar a atenção do governo. Nós somos pacíficos,
queremos diálogo com o governo. General, essas crianças que estão aí, como é
que vamos garantir a vida delas? O governo não oferece nenhum projeto. O
indigenismo está defasado, combatido pelo ruralista. Espero que Deus mande a
cada um de vocês inteligência e sabedoria para dialogar com a gente. Somos um
povo indígena que ninguém olha por nós. A sociedade está olhando para nós como
bandidos e assassinos. Vocês sentiram algum clima ruim aqui no nosso meio? É
isso que nos somos. Obrigado, que Deus abençoe.
Fonte: tribunadaimprensa.com.br
ingraçççado, porq eu tbm pago luz, agua, aluguel e passagens de onibus e barco ou seja tudão! e nem por isso eu saio fazendo pedagio e extorquindo a população, tbm não estamus sendo acusado de sequestrar e matar tres inocentes!!! pelo amor de Deus!!
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