quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Inédito: Sífilis e HIV nas aldeias da Amazônia


Inédito no País, o projeto financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates, para aplicação de testes rápidos de HIV e Sífilis na população indígena sexualmente ativa, no Amazonas, conseguiu atingir 43,1% dos 83.311 indígenas situados nessa faixa, e descobriu os índices de prevalência preocupante das duas doenças entre os índios testados.

Os resultados do trabalho foram apresentados nos últimos dias 19, 20 e 21 deste mês, no encontro promovido, na London School, em Londres, reunindo representantes de todos os países onde a Fundação Bill & Mellinda Gates financia projetos na área de DST/Aids.

Representando o Brasil, a ex-diretora presidente da Fundação Alfredo da Matta, a médica Adele Benzaken, idealizadora e coordenadora do projeto, apresentou os resultados relativos aos dois anos de execução do trabalho.

Segundo ela, 35.936 indígenas foram testados nesse período por mais de 500 profissionais da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) treinados em testagem e aconselhamento por profissionais da Fuam. Ao todo, o projeto englobou nove distritos sanitários indígenas especiais - oito situados no Amazonas e um em Roraima, onde está a maior parte dos indígenas da reserva ianomâmi, totalizando 160 polos bases e 195 grupos étnicos atingidos.

De acordo com Adele Benzaken, o projeto revelou uma prevalência de 1,5% de casos de sifilis e 0.09% de HIV entre os indígenas testados, o que, segundo a médica, é bastante preocupante na medida em que, em algumas aldeias, houve uma concentração elevada de casos das duas doenças, sobretudo na região do Vale do Javari, onde é alto o índice de mortalidade infantil.

De acordo com Benzaken, pelos resultados do projeto, que apontou uma prevalência de 5% de sífilis em uma das aldeias do Javari, é possível presumir que a doença, do tipo congênita, seja uma das principais causas das mortes de crianças recém-nascidas.

“Passada de mãe para filho, a sífilis pode matar o bebê nos primeiros meses de vida”, afirma. Os dados gerais de mortes na região apontam que pelo menos 30% das crianças recém-nascidas falecem vítimas de doenças como malária e hepatite.

“Com os dados obtidos a partir do projeto eu adicionaria a sífilis como uma das causas de mortes”, atesta Adele Benzaken, que integra o Comitê de Especialistas em DST e HIV da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A coordenadora ressaltou a importância do controle de qualidade feito para atestar a eficácia do trabalho de aplicação dos testes rápidos. “Uma das nossas preocupações foi a de saber se estávamos ou não fazendo a aplicação dos testes correta e enviávamos tubos com soro ressecado aos locais onde os profissionais estavam fazendo a aplicação dos testes e os testes eram executados e as respostas enviadas pelos Correios conferidas aqui”, afirmou.

Fundação revela alto investimento
A Melinda & Bill Gates Foundation investiu US$ 500 mil na realização do projeto no Amazonas. A iniciativa contou também com o apoio do Ministério da Saúde, que a partir do trabalho pretende aplicar em outras regiões do país a estratégia de detecção e controle das doenças sexualmente transmissíveis em áreas de difícil acesso e com populações vulneráveis.

“A ideia de realizar um projeto tendo como público alvo os indígenas surgiu exatamente por conta dos vários fatores de vulnerabilidade a que estão expostos os índios nessa região”, explica.

O estudo de custo foi um dos eixos do projeto. Segundo a coordenadora da ação, de todos os custos, a logística de transporte para acessar às áreas das aldeias foi a parte mais cara do projeto, além da compra dos insumos (incluindo os testes rápidos validados pela OMS e o material de trabalho utilizado pelos técnicos no campo).

“A experiência possibilitará, por exemplo, que o Ministério da Saúde adote a metodologia para aplicação em outras áreas indígenas do País, ou com populações vulneráveis como caminhoneiros, profissionais do sexo, entre outras”, explicou Adele.


Fonte: acrítica.com

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